quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Mudanças maiores

Mudei. Por necessidade e por convicção. A casa está aberta a visitas, então por favor, estejam à vontade.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O muro

"(...) A poesia está, já há alguns anos numa espécie de perplexidade, não sabe que rumo tomar. Então, estamos explorando, até o exasperamento, as formas puramente mecânicas e gráficas de criação poética. (...) também os ficcionistas se viram nesta situação desesperada de chegar ao fim de todos os caminhos. Mas eu acredito que haja um caminho. De repente, alguém dirá a palavra mágica que abre a muralha à nossa frente, revelando o portal escondido que lá se encontra".
Wilson Martins, historiador, em Idéias: um livro de entrevistas, de Cora Rónai.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A casa decadente

Na boca dele, o sabor amargo da derrota da infância – a nostalgia inquietante e vasta do nada.
Do zunir de uma palavra ordinária o ouvido sugava a declaração de amor que não existia.
Dos passos já dados, uma verdade inteira do dia de hoje.
Ou de ontem, na mesa do café.
Um vazio completo, a solidão amparada, a cama de lençóis revirados e os olhos muito abertos: conquistas da razão aturdida, amigos em corda bamba e falta.
Ele morria de uma morte rápida e convincente.
Ela morta e não sabia.
A casa decadente – sobre os móveis, a poeira do universo de amar espalhada em fragmentos microscópicos.
As fotos envelhecidas – recordações de andar exausta.
A louça suja;
Os corpos sobre a cama.
E a razão que faltava
[pedia para o poema existir? Para a inocência voltar?]
Um desejo de saúde – para rumar à casa nova – e só: as pernas devem ser resistentes.
Originalmente publicado em 3AM Magazine em 08 de fevereiro de 2009.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

What a mess we made?

Em meio ao vendaval: texto inédito na 3AM Magazine chamado A Casa Decadente. Eu volto, espero. Por favor não desistam de mim.

sábado, 31 de janeiro de 2009

'Sei que às vezes uso palavras repetidas, mas quais são as palavras que nunca são ditas?'

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Balloons


A tinta no muro rascunha uma vida:
uma donzela que poderíamos crer decadente
não fosse a loucura seu maior charme.
E as confusões todas que ela cria fazem da sua existência
o estímulo para um mundo mais bonito
para corações sadios e sorrisos de amplidão.
Mas da tristeza que ela guarda no peito, que fazer?
Para o entusiasmo permanecer, a saúde que pede
e um amor que se importa com o trivial:
aquilo que diariamente deixamos para depois quando em meio ao nosso vazio, achamos o ar para encher a bexiga.
E as palavras? Continuam a fazer sentido apenas para mim, acho.
E Clarice: Faz tempo que eu não uso exclamações!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Postal para Clarice

Não tenho o que suspeitar, querida,
se duvidei de tudo – como todos, aliás:
das febres, dos rastros, da poesia rasa.
Meu coração foi o fruto podre das dores de existir.
Existi, só?
Ou fui pleno em meus impulsos exageradamente inteiros e incolores?
Sem cor não há alegria ou cor é só disfarce?
Eu comi dos alimentos mais primordiais e bebi das águas que tinham gosto, sim.
E Clarice, se você soubesse da estranheza de amar como eu amei, dos sentidos invertidos.
Mesmo suspeito, eu amei.
E agora, sem suspeita, que certeza?
Aí onde está, qual a certeza? Qual é a busca?
Eu estou buscando Clarice, pois esperar não serve mais.
ilustração: whats eating Clarice?

A solidão amparada

----------- como definir o que é essencial? Como controlar, comedir o desejo de atingir o inalcançável? Eu falo de sonhos e angústia. Das coisas que estão longe, da inadequação e da invisibilidade de ser.
Uma ilusão que se prolonga na permanência de uma fé intermitente – tudo é intermitente: o próprio tempo e o amor na condição do Cristo - mesmo o amor é intermitente e não deveria. E a lucidez.
É uma lucidez que se conforma em não ser nada. Um engano.
O sentido é a busca da calma e a calma também é incerta. Se não faz sentido e se sente é tão ruim como parece? Eu falo de aflições, redenções e coisas já vistas. Eu poderia sonhar com o insustentável? Eu poderia me sustentar das estruturas condenadas? E dessa coexistência ainda ter o céu?
A etimologia do entusiasmo deve ser constante. O poder da palavra ouvida e íntima, sentida como instrumento de comunhão entre o divino e o resto.
Eu esperava exatamente essas palavras, porque eu – como ser – sou mesmo muito previsível.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Bicicletas (ou o fim da infância)

bicicletas (ou o fim da infância)
por felipe lima
















terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Vinte e nove

- Oi.
- Quem é?
- Eu.
- E aí?
- Olha, antes que você se assuste: pode abrir o portão e apertar a minha mão. Eu só vim desejar um bom aniversário. Um bom ano e muita felicidade.
- Jura? Não tem nenhum cigarro aí na tua mão? Não veio repetir aquelas coisas todas? Que você me ama, mesmo não devendo e etc.?
- Não. Não vim, não.
- Por que?
- Por que como assim?
- Assim o quê? Nada, sei lá. Espera aí.
- Beleza.
- E aí?
- E aí é isso. Eu tentei ligar mas o número não é mais o mesmo, eu acho. Aí eu pensei: é vinte e nove, o ano acabou, Deus! Vamos acabar tudo direito, então.
- E aí?
- Aí eu queria me desculpar por tudo, por qualquer coisa – mais uma vez – e desejar saúde.
- Só?
- Não. Saúde, principalmente.
Silêncio.
- E o que mais?
- Boa sorte. Dinheiro, essas coisas.
- Me deseja uma namorada! Tô precisando de uma.
- E uma namorada.
- Ah, valeu.
- De nada.
Silêncio.
- Tudo bem?
- Tranqüilo. E aí, o que tú tá fazendo? Trabalhando, estudando?
- Muito. Tudo isso aí. E você?
- Assistindo TV, engordando. Sempre. Mas me fala uma coisa: que tava rolando naquele dia lá do cigarro?
- Por que você acha que era eu?
- Ah, fala sério, porra. Tú tava na minha porta, debaixo de chuva, um cigarro na mão (um de vários, com certeza). Quem mais?
- Podia ser qualquer pessoa.
- Não podia, não.
- Não estava rolando nada. Uma despedida. Um ponto final.
- E isso aqui é o quê?
Levantar de ombros.
- Significa o quê?
- Sabe o engraçado?
- Hum?
- Eu nem sei fumar. Todo mundo diz.
- Tú devia parar de vez, então.
- Já parei.
- Bom.
- É.
Silêncio.
- Era isso.
- Falou, então. A gente se...
- Não.
- Como é que tú sabe que não? Não é tú quem decide.
- Olha: você espera mesmo que alguém tome as decisões por você?
- Como assim?
- Não é uma interrogação. Sabe qual é a grande verdade da qual ninguém se dá conta? No fundo, tudo é ridiculamente muito simples. Mas sei lá: forças ocultas, falta de Deus ou uma tremenda venda nos olhos, a gente deixa passar e justifica dizendo que era complicado. Há! Complicado. Fica com Deus, irmão. Se cuida.
Dois dedos. Mão no coração.
ilustração: cigarettes.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Três

Um quarto escuro
- Nuvens negras indissipáveis.
Um diálogo irrestrito, duas partes de um só:
uma é desejo e asas, outra sabe-se lá.
Uma, pedaço de um mundo de pouca idade;
outra, som indefinível (um grito, uma lamúria, um pedido, um adeus?)
As cinzas dos cigarros falam por nós.
O café forte esquecido na mesa – retratos incendiados de cólera armada e rancor.
- Bota as cartas na mesa pra que eu possa ver o jogo.
Risível, patético – tudo é uma tentativa folhetinesca de desarmar o inadiável.
- Inadiável? A armadura?
- O cansaço.
- Foi fantasia?
- Falta de ocupação!
- Foi covardia!
- Covardia?
- Egoísmo! Se não podias, que não se aproximasse.
- Não tinha opção, era destino.
- Bobagem! À merda com o destino. Destino é só conversa. Se amar era brinquedo, que pulasse a infância e fosses direto pra adolescência da qual nunca saiu.
- Se falas de infância é pela pureza de meu sentimento. Acreditei em histórias com finais felizes!
- E que final que é feliz? Feliz não é o infinito?
- Pois eu quero recomeço. Fim e recomeço.
- Pois que morra e nasça daqui a um milênio.
- Ainda me esperarás?
- Cínico!
- Sem rancor, misericórdia!
- Que há de ter misericórdia uma outra infeliz.
- E como termina?
- Do jeito que começa: com um desejo.
- Desejas que vá ou que fique?
- Desejo paz.
- Paz não terá nem com distância nem proximidade.
- Se desejo o indesejável que se cumpra o meu destino.
- Não mandastes o destino à merda?
- E onde mais estamos?
- Me diga: e como termina?
- Como acaba: um ponto final.
__________

Não há remissão
nem salvação para nós, amor
não há, não há
eu acabo de descobrir e desmorono agora
é só dor e só imperfeição, agora
é desespero perfeito e puro
o diabo ri dos nossos tropeços.
___________

Eu me canso de mim mesmo
e sei
que saber não é nada
de nada adianta e para o nada caminha.
O amor era impuro e
de fantasia perdurou e matou.
Eu desconstruo as linhas mas
as palavras são as mesmas de anos atrás.
O sentimento é o mesmo que havia
há dois milênios:
desarmonia e impiedade?
O que eu sinto é um punhado de terra,
jogado para o ar, virando poeira,
um vendaval de planos arquitetados
e mentiras criadas para dar sentido à vida.
Que caminho e que verdade?
Que ponto de honestidade?
Eu não duvido do poder
só desconfio do merecimento.
É piada do Deus?
É teatro do Mal?
É história de redenção?
É desgraça para servir como exemplo?
Não é meu esse caderno?
O Senhor não é meu pai?
Eu não quero me arrepender ou me queixar ou perceber o erro.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Pavement - Our Ordinary Life

pavement - our ordinary life
por felipe lima